LITERATURA CONTEMPORÂNEA
Contexto histórico
Tropicalismo
O movimento musical popular chamado Tropicalismo originou-se, ainda na década de 60, nos festivais de M. P. B. realizados pela TV Record, que projetaram no cenário nacional, os jovens Caetano Veloso, Gilberto Gil, o grupo Os Mutantes e Tom Zé, apoiados em textos de Torquato Neto e Capinam e nos arranjos do maestro Rogério Duprat.
Com humor, irreverência, atitudes rebeldes e anarquistas os tropicalistas procuravam combater o nacionalismo ingênuo que dominava o cenário brasileiro, retomando o ideário e as propostas do Movimento Antropofágico de Oswald de Andrade. Dessa forma, propunham a devoração e de deglutição de todo e qualquer tipo de cultura, desde as guitarras elétricas dos Beatles até a Bossa Nova de João Gilberto e o "nordestinismo" de Luiz Gonzaga.
Características dos textos:
ironia e paródia, humor e fragmentação da realidade; enunciação de flashes cinematográficos aparentemente desconexos, ruptura com os padrões tradicionais da linguagem (pontuação sintaxe etc.).
Suas influências foram fundamentais na música, mas repercutiram também na literatura e no teatro.
Com o AI-5, seus representantes foram perseguidos e exilados.
A partir daí, a linguagem artística ou se cala ou se metaforiza ou apela para meios não convencionais de divulgação.
A Poesia Marginal
Segundo a professora Samira Youssef Campedelli (M Literatura, História e Texto, três, Saraiva) "a poesia desenvolvida sob a mira da polícia e da política nos anos 70 foi uma manifestação de denuncia e de protesto, uma explosão de literatura geradora de poemas espontâneos, mal-acabados, irônicos, coloquiais, que falam do mundo imediato do próprio poeta, zombam da cultura, escarnecem a própria literatura.
A profusão de grupos e movimentos poéticos, jogando para o ar padrões estéticos estabelecidos, mostra um poeta cujo perfil pode ser mais ou menos assim delineado ele é jovem, seu campo é a banalidade cotidiana, aparentemente não tem nem grandes paixões nem grandes imagens, faz questão de ser marginal". Experimentalismo, moralidade, ideologia e irreverência são algumas de suas características.
A divulgação dessa obra foge do "circuito tradicional": são textos fechados em muros; jornais, revistas e folhetos mimeografados ou impressos em gráficas de fundo de quintal e vendidas em mesas de restaurantes, portas de cinemas, teatros e centros culturais; happening e shows musicais; até uma "chuva de poesia" foi realizada no centro de São Paulo, da cobertura do edifício Itália, em 1980.
Ainda de acordo com a Professora Samira (opuscit, p.354) "Recupera-se alguns laços com a produção do primeiro Modernismo (1922) - poemas -minuto, poemas ¬piada; experimentaram-se técnicas como a colagem e a desmontagem dadaístas; praticaram-se formas consagradas, como o sonetos ou o haicai; tudo foi possível dentro do território livre da poesia marginal, como bem atestam os poemas de Paulo Leminsky, à moda grafite, com sabor de haicai:
NÃO DISCUTO COM O DESTINO O QUE PINTAR EU ASSINO
Representantes desse grupo: Wally Salomão, Cacaso, Capinam, Alice Ruiz, Charles, Chacal, Torquato Neto e Gilberto Gil (Marginalia e "Geléia Geral")
o céu não cai do céu
O céu não cai do céu, poema de Régis Bonvicino
Não é rara também a paródia, assim como a metalinguagem.
Enquanto os concretistas atribuem grande importância à construção do poema, os marginais preocupam-se, sobretudo com a expressão, ora de fatos triviais, ora de seus sentimentos. Por isso, boa parte dessa poesia marca-se por um tom de conversa íntima, de confissão pessoal.
Outras Tendências
Alguns poetas não se filiam a nenhuma dessas tendências, ou constituindo obra pessoal ou seguindo novos caminhos, ainda muito novos e incertos para serem "catalogados"; ou retomando a linha criativa de poetas já consagrados, como Drummond, Murilo Mendes e João Cabral.
São eles: Adélia Prado, Manuel de Barros, José Paulo Paes, Cora Coralina; entre outros.
Prosa
Assim como na Poesia, na Prosa o período pós-moderno caracteriza-se por uma pluralidade de Tendências e estilos.
A partir dos anos 70, vão se quebrando limites entre os gêneros literários: romance e conto, conto e crônica, crônica e notícia; desdobram-se e acabam incorporando técnicas e linguagens, antes fora de seus domínios. Dessa forma, aparecem romances com ares de reportagens; contos parecidos com poemas em prosa ou com crônicas, autobiografias com lances romanescos narrativos que adquirem contornos de cena teatral; textos que se constroem por justaposição de cenas, reflexões, documentos...
O Romance
O romance ora segue as linhas tradicionais, aprofundando-se e enriquecendo-as com novos temas; ora inova, criando novas nuances de prosa.
Há diversos tipos de romance
Romance regionalista:
Seguindo um caminho tradicional, iniciado desde o Romantismo, uma safra de bons escritores continua a retratar o homem no ambiente das zonas rurais, com seus problemas geográficos e sociais.
Ex:
Mário Palmério (Vila dos Confins, Chapadão do Bugre), José Cândido de Carvalho (O Coronel e o Lobisomem), Bernardo Élis (O tronco), Herberto Sales (Além dos Maribus), Antônio Callado (Quarup); entre outros.
Romance Intimista:
Na mesma linha de sondagem interior, de indagação dos problemas humanos, iniciada por Clarice Lispector, vários autores exploram o interior de personagens angustiadas, desnudando seus traumas, problemas psicológicos, religiosos, morais e metafísicos:
Ex:
Lygia Fagundes Telles (Ciranda de Pedra, As Meninas), Autran Dourado (Ópera dos Mortos, O Risco no Bordado), Osman Lins (O Fiel e a Pedra), Lya Luft (Reunião de Família), Aníbal Machado (João Ternura), Fernando Sabino (O Encontro Marcado), Josué Montello (Os degraus do Paraíso), Chico Buarque (Estorvo); entre outros.
Romance urbano - social
Documenta os grandes centros urbanos com seus problemas específicos: a burguesia e o proletariado em constante luta pela ascensão social, luta de classes, violência urbana, solidão, angústia e marginalização.
Ex:
José Condé (Um Ramo para Luísa), Carlos Heitor Cony (O ventre), Antônio Olavo Pereira (Marcoré), Marcos Rey, Luís Vilela, Ricardo Ramos, Dalton Trevisan e Rubem Fonseca.
Romance político A censura calou, durante um tempo, as vozes dos meios de comunicação de massa fazendo com que o romance passasse a suprir essa lacuna, registrando o dia-a-dia da história, fazendo surgir novas modalidades de prosa:
a) paródia histórica. Ex: Márcio de Sousa (Galvez, o Imperador do Acre), Ariano Suassuna (A Pedra do Reino), João Ubaldo Ribeiro (Sargento Getúlio).
b) a romance reportagem, com emprego de linguagem jornalística e enredos com relatos de torturas, como veículo de denúncia e protesto contra a opressão.
Ex: Ignácio de Loyola Brandão (Zero, não Verás País Nenhum), Antônio Callado (Quarup, Reflexos do baile), Roberto Drummond (Sangue de Coca- Cola) e Rubem Fonseca (O Caso Morel).
c) o romance policial, com aspectos urbanos e políticos aparece na ficção de Marcelo Rubens Paiva (Bala na Agulha) e de Rubem Fonseca; este último, considerado o melhor nesse gênero, escreveu "A Grande Arte", "Bufo & Spallanzani”, "Vastas Emoções e Pensamentos Imperfeitos” dentre outros.
d) o romance histórico, que consegue fundir narrativa policial, fatos políticos e abordagem histórica têm grandes representantes como a obra "Agosto" de Rubem Fonseca, que retrata os acontecimento políticos que levaram Getúlio Vargas ao suicídio; "Boca do Inferno" de Ana Miranda que retrata a Bahia do século XVII e os envolvimentos políticos e amorosos de Gregório de Matos; Fernando Morais seguindo esta linha escreve "Olga", a história da esposa de Luís Carlos Prestes, entregue aos alemães nazistas pelo governo de Getúlio.
No Realismo Fantástico e no Surrealismo alguns escritores constroem metáforas que representam a situação do Brasil utilizando situações absurdas e assustadoras.
Ex:
Murilo Rubião é o pioneiro (O Pirotécnico Zacarias, O Ex-Mágico); J. J. Veiga (Sombras de Reis Barbudos, À Hora dos Ruminantes); Moacir Scliar (A Balada do Falso Messias, Carnaval dos Animais); Érico Veríssimo (Incidente em Antares).
Romance Memorialista e / ou autobiográfico
Essa tendência surge na ficção brasileira na década de 80, misturando autobiografia, relatos de viagens memoriais e reflexões de intelectuais que viveram no exílio ou foram testemunhas das atrocidades cometidas pelo regime militar.
Ex: Pedro Nava (Baú de Ossos), Érico Veríssimo (Solo de Clarineta I e II), Fernando Gabeira (O que é isso Companheiro? e O Crepúsculo do Macho), Marcelo Rubens Paiva (Feliz Ano Velho).
Romances experimentais e metalingüísticos
Desenvolvem novas técnicas de narrativa e trabalho lingüístico que apresentam estrutura fragmentária.
Ex:
Osman Lins (Avalovara), Ignácio de Loyola Brandão (Zero), Ivan Ângelo (A Festa), Antônio Callado (Reflexos do Baile).
O Conto e a Crônica
A partir dos anos 70, houve uma verdadeira explosão editorial do conto e da crônica, por serem narrativas curtas condensadas e atenderem à necessidade de rapidez do mundo moderno. Novas dimensões foram introduzidas no conto tradicional: subversões da seqüência narrativa interiorizarão do relato, colagem de flashes e imagens, fusão entre poesia e prosa, evocação de estados emocionais.
A crônica, texto ligeiro, de interpretação imediata, com flagrantes do cotidiano, também passou a agradar o leitor tornando-se popular.
Autores que se destacam nesses dois gêneros:
Contos:
Lygia F. Telles, Osmar Lins, Murilo Rubião, Autran Dourado, Homero Homem, Moacyr Scliar, Oto Lara Resende, Dalton Trevisan, J. J. Veiga, Nélida Pinon, Rubem Fonseca, João Antônio, Domingos Pelegrim Jr, Ricardo Ramos, Marina Colasanti, Luís Vilela, Marcelo Rubens Paiva, Ivan Ângelo e Hilda Hilst.
Crônica:
Rubem Braga, Vinícius de Moraes, Paulo Mendes Campos, Raquel de Queiroz, Carlos Drummond de Andrade, Fernando Sabino, Álvaro Moreira, Sérgio Porto (Stanislau Ponte Preta), Lourenço Diaféria, Luís Fernando Veríssimo e João Ubaldo Ribeiro.
Poesia
Em março de 2000, Iracema Macedo lançava Lance de dardos. Era a reunião de poemas publicados anteriormente nos livros Vale feliz (1991), Gravuras (1995) e Ceia das cinzas (1998), todos em parceria com Eli Celso e André Vesne.
Iracema foi vencedora dos principais prêmios literários norte-rio-grandenses: Othoniel Menezes, em 1992; Myriam Coeli, de 1992 e Auta de Souza, de 1994. Nascida em Natal, estudou Nietzsche e, de certa forma, dialoga com o filósofo na escritura de sua poética. Dois poemas:
Bacante
Em meu ninho longínquo
Inicio ventos
Invento cios
Canto e danço em volta do fogo
Transformo meu leite em vinho
E ofereço meu corpo para os lobos
Bilhetinho
Quando eu morrer
Mesmo em tristeza devastada
Morrerei de alegria de terem sido possíveis:
O amor a tristeza e a aventura de ser carne
Em meio a tampas e pedras